terça-feira, 13 de abril de 2010

"Cineastas" do Novo Século

Glauber Rocha foi um crítico e revolucionário do cinema brasileiro. Mas antes de se tornar diretor, era ator e escritor. Participou de movimentos estudantis, estudou direito por dois anos e se aventurou no jornalismo. Produziu e dirigiu diversos curtas-metragem, pensou cinema e, através da sua arte, criticou o regime Ditatorial que se instalou no Brasil em 1964 de maneira radical. Glauber é também o autor da famosa frase: "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", que entendo como um incentivo aos compatriotas para que estes externassem sua arte, mesmo que com poucos recursos. O que eu quero enfatizar aqui é que Glauber Rocha tem sido mal interpretado pelos aspirantes a cineastas do novo século.

Entenda, não sou crítico de cinema, tampouco me considero um cineasta ainda. No meu entendimento, os filmes que produzo carecem de aprimoramento, tanto técnico quanto ideológico. Eu sempre serei o crítico mais ferrenho das minhas obras e prezo isso.

No Festival de Cinema "É tudo verdade!", que acontece nesse mês de Abril, no Rio de Janeiro e em São Paulo e que já está em sua 15ª edição, senti um certo clima de oba-oba e vi "diretores" com filmes selecionados para a competição nacional, mas que no entanto, não sabem dimensionar ou sequer explicar o que suas obras representam para eles mesmos. Bom, se os próprios não sabem, o público vai achar o quê? Em poucas palavras, acho inadmissível fazer um filme e não saber o porquê ou o quê ele significa. Para mim, isso é desdenhar da inteligência alheia e desmerecer pelo menos cinco gerações de cineastas, que pensaram o cinema nacional e trabalharam [cada um a sua maneira] para que ele alcançasse seu patamar atual.

É incrível o descaso desses novos "cineastas" com a prática fotográfica. Parece que todos querem ser revolucionários antes mesmo de aprenderem o básico. Nunca li um pensador que tivesse pensado tudo sozinho, sem antes ter se apoiado em uma linha de pensamento antecessora. Não conheço um artista plástico que não tenha se inspirado numa obra ou movimento anterior para criar a sua própria e a aí sim, talvez, revolucionar. Será que todos acham realmente que vão produzir filmes tão originais que vão ganhar notoriedade pública e prêmios polpudos?

Não adianta apenas ter uma idéia e uma câmera na mão, tem que saber executar a idéia e operar a câmera! Não adianta apenas querer, tem que conhecer!

Glauber, coitado, já deve estar de bruços...

2 comentários:

Sunda disse...

Na administração falamos que se você fizer igual aos outros terá o mesmo resultado, no marketing as estratégias buscam diferenciar o produto, o quê cria muito lixo. Tenho experiência nessas duas áreas mencionadas e te falo que ser diferente pode não ser eficaz, eficiente nem efetivo.

Unknown disse...

Fiquei tentando arranjar palavras para melhor expressar o que eu achava... mas nao consegui. Então vai assim mesmo: no mundo de hoje qualquer um pode ser qualquer coisa, essa é a regra: seja o que vc quiser ser. Com a facilidade no acesso as informações, basta-se querer. No entanto, querer ser algo que não se é tornou-se um imperativo.
Não vamos nos esquecer de um dos mais lamentáveis episódios do nosso congresso ano passado, quando aprovaram uma lei dizendo que para ser jornalista não era preciso diploma,ou seja, a faculdade de comunicação não era mais necessária, com o fátidico argumento de que qualquer um pode ser jornalista, qualquer um pode presenciar um evento na rua e mandar para o site da globo, filmar o que viveu e enviar para ser mostrado para o mundo. Seguindo essa lógica, podemos dizer então que quem faz dieta pode ser um nutricionista? quem faz massagem pode ser um fisioterapeuta? que da conselho pode ser um psicólogo? ou então, quem tem uma camera na mão pode ser cineasta? Há uma infinidade de exemplos. Mas temos que perceber que sim, de repente esse pode ser um primeiro passo a ser dado, mas escolher uma profissão, produzir algo está para além do querer, requer interesse, investimento, decepção, persuasão, aprendizado,conhecimento, dentre outras coisas mais. Então, não, a gente não pode ser tudo aquilo que a gente quer ser, nem tudo aquilo que os outros acham que a gente deve ser. Para Ser, é preciso muito mais que um passo, é preciso uma caminhada em caminhos turtuosos, muitas vezes, sem vistas do fim do caminho.

Comentários Recentes