terça-feira, 7 de junho de 2011

O humor e o “politicamente correto”

Nossa ideia para o blog nunca foi de ficar reproduzindo conteúdo já difundido na internet, mas encontrei alguns textos interessantes que não são de fácil conhecimento, então trago-os para que vocês tenham acesso. Espero que gostem:

O humor e o “politicamente correto”

Tem sido marca de nossa época (não se sabe exatamente a partir de quando, nem por que começou) adotar extrema cautela quanto a formas de expressão, ao vocabulário, ao emprego de certos conceitos. Trata-se de evitar que seja ferida a susceptibilidade de quem pertence a determinada etnia, ou professe certa religião, ou se oriente por determinada opção sexual, ou que surja representando toda uma nacionalidade. Tal preocupação traria a vantagem de impedir (ou ao menos tentar impedir) a propagação de qualquer preconceito. Mas, no que diz respeito à criação e à pratica do humor, os efeitos dessa cautela podem ser desastrosos.

É que o humor vive, exatamente, do desmesuramento, do excesso, do arbítrio, da caricatura, do estereotipo... e do preconceito. Este ultimo é o vilão da história: o preconceito é o argumento final para quem cultiva o politicamente correto e abomina quem dê um passo fora desse território bem comportado e muito bem controlado.

Desde sempre o humor serviu como compensação simbólica para as tantas desventuras que afligem o homem. É quando o pobre se ri do rico, o ingênuo do esperto, o fraco do poderoso; ou então, é quando ser pobre, ingênuo ou fraco já é razão para um riso que explora o peso do infortúnio e da desgraça. De fato, o humor não pede a ninguém o direito de agir: sua liberdade é a sua razão de ser, é o sentido final de quem ri – ainda que seja para não chorar.

O advento do “politicamente correto” parte da convicção de que, para sermos felizes, temos que ser todos, ao mesmo tempo e inteiramente, justos e honestos uns com os outros, respeitando-nos uns aos outros sem qualquer possibilidade de desvio. Ora, às vezes isso é extremamente chato: ou porque não conseguimos ser justos e honestos o tempo todo, ou porque a falta do riso acaba por nos tornar tão distantes uns em relação aos outros que nos sentimos quase desumanos... Por alguma razão, o riso é parte de nós. Sem ele, perderemos a criancice, mataremos todos os palhaços do mundo, eliminaremos toda gargalhada. Ou, como disse uma vez um humorista “se o mundo chegar a ser inteiramente sério, que graça terá?”.

(Abelardo Siqueira, inédito)

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