segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um Problema Institucional Global

O Texto "Pra puta que pariu com a sua autoridade", escrito há alguns dias pelo "Pensador" suscita questões importantes e vale a pena ser lido! O texto que vocês estão lendo agora começou a ser escrito como um comentário ao texto do Pensador mas, como vocês podem ver, acabou se alongando demais e ganhou vida própria.

Queria me ater a questão do funcionalismo público abordada. Acho que o problema é muito maior do que ser bem ou mal tratado. Uma frase muito marcante para mim no texto anterior foi “Todo e qualquer contato com um funcionário público que tive no qual não apresentei nenhuma "credencial" foi deplorável no sentido ético e moral e pra mim”, e eu até concordo que ela possa ser verdadeira, mas acho que é muito mais conseqüência do que causa do problema.

Já pensei muito também sobre essa questão de filmar ou gravar tudo o que acontece na repartição, mas sinceramente não acho que isso solucione o problema. Se a repartição passa a ser filmada, os “esquemas” passarão a serem combinados nos banheiros, corredores e bares ao redor.

Acho que o problema é bem maior que imaginamos, é um problema institucional que envolve TODAS as instituições deste país, seja ela pública ou privada. Hoje em dia, há 3 jeitos de fazer as coisas no Brasil: o jeito certo (que ninguém mais lembra direito como é), o jeito errado e o maldito "jeito brasileiro", que se utiliza do meio errado para atingir o objetivo esperado – e, que ao final, sai melhor e mais rápido do que se você tivesse usado o jeito certo.

O sistema é feito para que as coisas não funcionem, para que você não consiga resolver seus problemas, que muitas vezes são criados pelo próprio sistema.

Enquanto não houver PUNIÇÃO para quem faz as coisas desse jeito, enquanto não doer no bolso desses caras, enquanto nego não apodrecer em prisões e ver que não importa quem você seja, mas que você terá que se responsabilizar pelas coisas que faz, enquanto não houver educação, mas não no sentido utópico em que muitas vezes a palavra "educação" é usada, como se quiséssemos atingir algo impossível de ser atingido, mas no sentido literal mesmo, de pegar o moleque e mostrar pra ele o que é certo até mesmo nas menores ações. Eu poderia citar milhares de exemplos, mas não o farei porque sei que o leitor já leu e ouviu dezenas deles (e qualquer um serve para ilustrar o que estou falando). Enquanto as coisas forem feitas dessa maneira, NADA vai mudar.

Leio as notícias e algumas vezes penso que esse é um problema que já virou mundial, que o poder torna a pessoa altamente corruptível, porque agora que ele recebeu aquele poder, ela vai fazer de tudo para não perdê-lo, ainda que isso vá de encontro com a ética ou os valores que recebeu durante toda vida. Ao contrário do que diz o provérbio, é pouco cacique para muitos e muitos índios.

A geração de nossos pais foi à rua, lutou contra ditadura, ajudou a elaborar a constituição vigente, fizeram greve, diversos movimentos estudantis e tinham uma voz. Tenho a impressão de que nossa geração vive num contexto completamente diferente, ainda que tenha passado poucos anos – numa linha histórica, 30 anos não são nada.

Os sistemas políticos utilizados pelo mundo, as grandes corporações e a globalização massacram o indivíduo de forma que ele não faça a menor diferença, que não tenha a menor importância que, mesmo quando seu discurso tenha uma importância, sua voz simplesmente não é ouvida.

O máximo de protesto que nossa geração faz é uma ou duas frases de reprovação no facebook, um inútil abraço na Lagoa Rodrigo de Freitas pedindo por paz que não muda nada. Não sei se estamos mais interessados em encher o rabo de cachaça, arrumar ingressos para festinha do momento, ter uma merda de um celular com acesso a internet ou cada um só corre atrás do seu, busca um lugar no mercado e que se foda se a gente pode lutar junto por alguma coisa, que não é só boa para um indivíduo, mas para toda uma coletividade. Nunca nada foi mudado nesse país por nossa geração que, seja pela falta de interesse por questões mais sérias (como política), simplesmente não nos interessamos por questões que nos afeta diretamente. “Deixe que alguém proteste por um direito que também me diz respeito.” Só que ninguém grita por nada, e quem detém o poder vai se utilizando dele como bem entende.

Desde meus dezesseis anos (veja bem, dezesseis), tento me desinteressar por política, e vou enterrando cada vez mais o sentimento de revolta quando vejo uma sacanagem sendo feita, quando algo como essas consultorias que pessoas do governo prestam – que podem até serem legais, mas tão TOTALMENTE antiéticas e, porque são aceitas pela lei, ninguém discute e pronto.

Procuro me afastar dessas questões porque nadar contra a corrente sozinho é inútil, porque não vou me aborrecer e virar mais um entre os quinze barbudos com camisa do Che Guevara que este país tem, que imagina que o socialismo é a solução para nossos problemas, quando já foi provado que o socialismo, na prática, não funciona e pior, ainda não tivemos a capacidade de inventar algo diferente do que foi apresentado até hoje: Capitalismo e Burocracia.

Para concluir, tenho duas reflexões sobre o tema:

A primeira é mais, digamos, otimista. Uma frase em que atribuo a Churchill e que não poderei reproduzi-la fielmente aqui porque pesquisei e não a encontro, mas é algo do tipo: “A crise é grave e a saída exige decência”.

E outra reflexão, um pouco mais pessimista – logo, mais próxima do que acredito – O importante é atingir o ponto de nada esperar.E é isso que venho buscando nos últimos tempos, porque sei que não sou capaz de mudar nada sozinho e ninguém mais parece estar interessado nisso...

3 comentários:

Pensador disse...

Bem, sinceramente, eu não sei se a falta de ética de funcionários públicos é consequência ou causa do problema.
O que sei que existe, é um monte de repartições públicas que só funcionam na base do jeitinho, da taxa de urgência. E na maior parte das vezes, sem que literalmente nada seja feito para mudar a situação.
Não estou aqui defendendo a iniciativa privada ou a privatização de tudo, afinal é óbvio que existem problemas neste tipo de instituição. É só querer mudar de banco ou de operadora de celular que passaremos por problemas sérios de gestão, por demoras e atendimentos ruins. Mas algo está sendo feito sobre isso, e você tem como reclamar.

Já na instituição pública você vai fazer o que? Tentar chamar o jornal regional pra denunciar um pedido de taxa de urgência, ou um policial que parou o carro da sua empresa e quer que você contribua para o caixinha?
Votar num governante melhor irá resolver a situação?
Os recursos pra mudança são completamente incertos e na maioria das vezes não irão resolver seu problema.

Concordo que a educação facilita.
Concordo que a punição ajudaria com exemplos.

O problema maior é como resolver essa merda na qual nos metemos, ou melhor, na qual nossos pais nos meteram?

Já pensei em abrir um site, uma ONG, alguma coisa que possa ter um mínimo de credibilidade para fazer algumas denúncias, ou para fuxicar alguns contratos públicos de longo prazo. O problema é como manter um anonimato com uma instituição como essa? Como garantir que não me colocaria em perigo????

Lagash Films disse...

eu ia comentar o texto, mas só ler o comentário do pensador já fiquei com preguiça...
foi mal! faço parte dos inúteis que acham que fazendo piada minimizam o problema! rs

ps: e ainda coloco um "sorriso" no final para parecer legal e não irritar as pessoas que estavam levando o assunto realmente a sério!

Anônimo disse...

Em resposta ao comentário do Mazito cito Abraham Lincon: Pra ver o caráter de uma pessoa dê poder a ela!

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